Dona mandona

Na segunda-feira, Dona Mandona foi passear. Ela encontrou o Seu Metido.
– Aonde você vai? — ele perguntou.
– Não é da sua conta — ela respondeu.

Na terça-feira, ela encontrou o Seu Barulhento. Ele estava cantando. Bem alto, é claro.
– Cale a boca! — ela disse.

Na quarta-feira, ela encontrou Seu Feliz. Ele estava sorrindo. Como sempre.
– Tire esse sorriso bobo da cara! — ela falou.
Como você pode imaginar, Dona Mandona não era muito querida. Para não dizer o contrário. O que a Dona Mandona não sabia era que alguém a tinha visto dando ordens ao Seu Metido. E que alguém a tinha visto dando ordens ao Seu Barulhento. E que aquele mesmo alguém a tinha visto dando ordens ao Seu Feliz.

O mago (cujo nome, aliás, era Merlin) foi para casa pensativo.
– Alguma coisa tem que ser feita com essa Dona Mandona — ele pensava, enquanto caminhava.
Quando chegou em casa, ele foi direto para a biblioteca e tirou um grande livro vermelho da estante.
Estava meio empoeirado, como se não tivesse sido lido há muito tempo.
– Vamos ver… — ele murmurou, sentando-se na poltrona.

Abriu na página trezentos e quatro. No topo da página lia-se:
“Como fazer as pessoas pararem de ser mandonas”
Merlin, o mago, leu a página cuidadosamente, fechou o livro, colocou-o de volta na estante e sorriu. Um sorriso bem esperto. No dia seguinte, que era quinta-feira, Dona Mandona encontrou alguém dormindo. Como sempre. Era o Seu Preguiça.
– Acorde! — ela mandou, e cutucou-o na barriga.
– Ai! — protestou Seu Preguiça.
Mas… Por trás de Dona Mandona, Merlin, o mago, que a tinha seguido, disse alguma coisa também. Ele sussurrou.
Uma palavra mágica que havia aprendido na página trezentos e quatro. E sabe o que aconteceu? De repente, como mágica, que, aliás, era mesmo, apareceu um par de botas nos pés de

Dona Mandona. Num minuto não estavam lá. No outro, estavam. Dona Mandona olhou para baixo, alarmada. Eram botas mágicas e, sendo mágicas, podiam falar.
– Oi, Esquerda — disse a bota da direita.
– Oi, Direita — disse a bota da esquerda.
– Estou pronta — disse Direita.
– Certo! — disse Esquerda

E lá foram elas. Esquerda. Direita. Esquerda. Direita. Esquerda. Direita. Cada vez mais rápido. Marchando com Dona Mandona. Dona Mandona não podia fazer nada. Seu Preguiça estava se divertindo.
– Muito bem feito, Merlin — ele disse rindo.

Merlin piscou seu olho mágico. Aquelas botas fizeram Dona Mandona marchar por cinco quilómetros. Ela estava exausta.
– Pronto, Esquerda — disse a bota da direita.
– Pronto — respondeu Esquerda.
– Aten… — disse Direita.
– -ção! — disse Esquerda.

E elas pararam. Dona Mandona estava sem fôlego. Ela tentou tirar as botas. Mas era impossível.
E lá veio Merlin.
– Essas botas — disse Merlin, apontando para baixo — são para pessoas mandonas.
– Faça-as desaparecerem imediatamente! — ordenou Dona Mandona, batendo o pé.

Bem, aliás, ela tentou bater os pés, mas as botas não obedeciam.
– Você não pode mandar na gente! — disse Direita, com um sorriso de satisfação. Esquerda riu.
– Faça já… O que… Estou… Mandando!!! — gritou Dona Mandona.
– Pronta quando você quiser — disse Direita.
– Agora mesmo — respondeu Esquerda.
– Marcha rápida!

E lá foram elas novamente. Esquerda. Direita. Esquerda. Direita. Esquerda. Direita. Por mais dez quilómetros. E pararam de novo. E lá veio Merlin.
– Faça essas botas estúpidas irem embora! — gritou Dona Mandona.
– Só se você disser a palavra mágica — respondeu Merlin.

Dona Mandona pensou. E pensou. E pensou mais um pouco.
– Por favor — ela disse.
– Assim será melhor — sorriu Merlin.

E ele sussurrou a palavra mágica da página trezentos e quatro. As botas desapareceram como mágica.
– Bem, agora pare de ser mandona ou você sabe o que vai acontecer – disse Merlin, num tom ameaçador. Dona Mandona concordou. Tristemente.
– E muito bem — sorriu Merlin.

E foi embora. E sabe de uma coisa? Daquele dia em diante, até hoje, Dona Mandona ficou mudada.
Não é nada mandona. E você sabe por que, não sabe? Sabe do que ela tem medo? Das botas mandonas!

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