Decidir pela adoção

É altura de pensar em aumentar a família e por diversos motivos pensa em adotar uma criança. Mas estará o casal realmente preparado para tal?

Em Portugal são abandonadas em média 20 crianças por ano e os tribunais retiram às famílias cerca de 70 crianças por maus-tratos, abandono e negligência. Infelizmente, nem todas elas conseguem encontrar uma nova casa embora não faltem pretendentes à adopção.

Segundo a lei portuguesa, uma mãe só pode dar consentimento à adopção do seu filho depois de decorridas seis semanas após o parto, e este terá de se referir, sem qualquer hipótese de dúvida, à adopção plena e deverá ser prestado perante o juiz que deve esclarecer o declarante sobre o significado e efeito do acto.

Do lado do casal adoptante há que ter em conta que esta não é uma decisão meramente emocional mas também financeira e que se trata de uma decisão irreversível. Cada caso de adopção apresenta um desafio de construir a vida de uma criança com todo o amor que possa ser dado. É necessário pensar bem a sua situação financeira e psicológica porque esta será analisada ao detalhe durante o processo de adopção.

Se pretende adoptar uma criança apenas porque perdeu um filho recentemente, talvez seja melhor esperar até que o choque passe antes de iniciar o processo, o que  é válido também nos casos em que ocorra infertilidade num dos membros do casal.

As crianças que enfrentam processos de adoção têm pela frente um longo caminho a percorrer no sentido de se adaptarem a uma vida e família completamente novas. O trauma provocado pela separação dos pais ou por ter sido criada em instituições juntamente com muitas outras crianças é um fator que pesa na formação do carácter da criança. E como é que a criança se irá adaptar à sua família?

Acima de tudo, os pais adotivos esperam muita alegria com a chegada da nova criança, mas têm também de estar preparados para muitos desapontamentos e problemas, que podem parecer exacerbados quando se passam com um filho não biológico. Raros serão os casos de pais adotivos que em determinada ocasião não se tenham arrependido desse acto, mesmo que não o formalizem em palavras.

Mas que tipo de problemas podem ainda ocorrer após o processo de adoção? Por exemplo, em que situação fica a criança em caso de divórcio do casal ou morte de um dos membros. Legalmente, tem os mesmos direitos que um filho biológico, mas é certo que a criança adoptada vai sentir maior tensão. Isto porque, se a maioria das pessoas tem um elo que as liga aos seus pais biológicos, mesmo quando estes morreram, através de fotografias, a criança adoptada não tem estas raízes que a liguem ao passado.

Neste campo, os direitos da criança têm sido tomados em consideração a nível mundial para o que muito tem contribuído a matéria regulada pela Convenção sobre os Direitos da Criança onde se incluiu a Convenção sobre a Proteção de Menores e a Cooperação Internacional em Matéria de Adoção, assinada na Haia em 29 de Maio de 1993.

Também algumas crianças nunca chegam a recuperar do choque de serem separadas dos pais, mesmo que as memórias destes sejam negativas e no novo lar sejam tratadas com todo o carinho. A pergunta mais frequente é ‘Porque é que a minha mãe me entregou a vocês?’ e a relação que se pretendia de amor passa a ser de ódio, mesmo sem nenhuma razão plausível.

É preciso também ter em vista alguns pontos que podem ser importantes como o facto de os pais beberem, fumarem ou ingerirem drogas, factores que podem pesar em muito no futuro e na saúde das criança, pelo que é aconselhável alguma investigação sobre os pais biológicos da criança, sempre que tal seja possível. No entanto, em Portugal vigora o ‘Segredo de Identidade’ em que os pais do menor se podem opor a que a sua identidade seja revelada aos adotantes.

Quem se prepara para adotar uma criança tem de estar preparado para encarar de forma realista os problemas e os desafios que vão surgir, porque pode não encontrar a gratidão e o amor que esperava por parte da criança que adotou. Por outro lado, esta é, na maioria dos casos, uma experiência enriquecedora e positiva para todas as partes nela envolvidas.

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