Desespero na educação

“Este ano, deparei-me com uma turma que anda ainda mais devagar do que o caracol, o que eles fazem em meia hora faço eu em dez minutos, …”

“Apeteceu-me escrever-lhe, para lhe contar novidades. Este ano, deparei-me com uma turma que anda ainda mais devagar do que o caracol, o que eles fazem em meia hora faço eu em dez minutos, e farto-me de estar nas aulas, fazendo exercícios e mais exercícios para a frente. A única coisa positiva nisto tudo é o facto de nunca trazer trabalhos de casa, faço-os nas aulas. (Às vezes peço para ir à casa de banho para demorar [para mim] menos tempo a aula.) E assim fora os dias de tarde livre, tenho mais tempo para fazer outras coisas, dado que as tardes livres estão absolutamente ocupadas:ténis, Jornalismo, Violino, querendo em Dezembro ir para a natação.

Estou farta até à ponta dos cabelos (se eu tivesse os cabelos compridos mais farta estava!) de algumas aulas, onde os professores estão sempre à espera de me apanharem numa falha para me estatelar ao comprido no meio dos meus colegas, estes, para os quais a maior ambição nas aulas, era conseguir falsificar o meu teste com o de outro que tenha negativa…

Os professores vêm-me como uma espingarda automática, que dispara palavras e respostas (até mesmo críticas) a torto e a direito, pondo em causa a origem dos trabalhos. Revoltada como me sinto, por vezes sou até agressiva (na opinião deles, na minha apenas estou a dizer a verdade). O barulho nas salas de aula é totalmente excessivo e quando me queixo berram comigo a dizer que o professor ali é ele, e não eu. A sorte, é que eu perdi o hábito de me envergonhar quando me recriminam por factos fictícios, mas no entanto não tenho culpa de não saberem preparar uma aula, e ignorarem pormenores que deveriam saber. Estão habituados aos alunos do “toma isto, engole e cala-te”, dos que não sabem formular uma crítica.

Tenho uma professora de Português, sou eu que a ensino, o caso não é mais ridículo, porque sou da altura dela! Marca – me erros onde não os tenho, ensina mal, não tem nenhuma pedagogia para dar as aulas, e não sabe os conteúdos gramaticais e de interpretação! Que sorte eu ter no ano passado uma EXCELENTE preparação a Português, para me safar. Os colegas não me apoiam em nada (grande admiração!), e pelo contrário, só me ajudam por vezes a fraquejar quando os professores me deitam o olhar de … professor! Mas já tenho um grande hábito em resolver este tipo de situações, ainda bem. Mas, a Dra. compreende-me, não é fácil, por vezes manter a cabeça erguida, com tantos tufões a tentar baixá-la…

Oh, já escrevi tudo(sem contar pormenores, se os contasse escreveria um livro de anedotas!), e com a esperança de ter um contacto seu assim que possa… “
Querida amiga, de 12 anos, sabes bem como te entendo. Como quase todos os dias me confronto com tantos problemas como o teu e tenho nos últimos 15 anos tentado aliviar situações como a tua, dentro de um sistema obsoleto, espartilhante e incompetente como é o sistema educativo do nosso país.

Por tua causa e muitos milhares de jovens que sofrem como tu, é que em Janeiro vou iniciar um projecto de educação alternativa, a que chamei “Educar para o Futuro”, numa última tentativa (porque o meu tempo vai-se esgotando) de preservar o vosso bem-estar psiquico nesta tortura que é o ter de passar 25 anos encafuados numa sala de aula a ouvir muitas das imbecilidades que relatas, quando esse período de formação poderia ser reduzido a menos de metade do tempo! Não desesperes, havemos de provar que vale a pena. Já que nãopodemos contar com a ajuda dos ministérios (da Educação, da Solidariedade, etc) ao menos rezemos para que não nos criem obstáculos. Nisso são eles expeditos!!! Conto contigo e com outros como tu, na Mealhada, em Janeiro, do novo milénio. Uma viragem na educação, espero!

Dra. Manuela DaSilva
CPCIL

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