Se lhe indicassem uma cadeira dura, uma posição de costas direitas, um livro que não seria da sua escolha, a mandassem ler em voz alta tendo em atenção cada ponto e vírgula, e onde cada erro seria apontado aos colegas, e depois da leitura lhe fizessem pergunta….

 

Ler deve ser um prazer, algo que alguns professores e pais ainda não descobriram e uma ideia que não parecem desejar passar para alunos e filhos. Quando abrimos um livro é porque esperamos que ele nos diga algo que a vida real não diz ou porque este nos irá ensinar alguma coisa. Mas essa descoberta ou ensinamento deverá ser feito ao nosso ritmo. Como alunos já nos deparamos com enormes calhamaços para ler em dois ou três dias e, diga-se a verdade, raramente as ideias que estes pretendiam passar ficaram na memória mais do que um semestre.

 

O mesmo acontece com as crianças com a agravante que se pretende, a partir do método que apresentámos no princípio do texto, supostamente, despertar o interesse da leitura. Mas dissecar um livro, que teve de ser lido em voz alta, sob uma chuva de acusações de erros, apenas pode servir para odiar as páginas impressas de qualquer coisa que se assemelhe com um livro e que nos seja colocada à frente.

 

Na aprendizagem é que está o segredo. Quando um livro nos é apresentado de forma aliciante, que cativa, e sobre o qual não teremos de fazer uma dissertação, é natural que este nos prenda da primeira à última página. Mas se o livro, por mais belo que seja, for “vítima” por parte do professor ou educador, de uma análise gramatical, é mais do que óbvio que qualquer tentativa de apreciar a leitura está votada ao fracasso.

 

Ler um livro em voz alta às crianças e fazê-las penetrar no mundo fantástico, em vez de esperar que elas o decifrem com esforço, apenas juntando palavras e não se apercebendo da história em si, é a melhor solução para levar as crianças a procurar esse mundo encantado dos livros.

 

Em pequenos grupos, na escola pode depois ler-se um pequeno livro à sua escolha, criando um tempo dedicado apenas à leitura do livro que quiserem, quando quiserem e se quiserem, sem que estes momentos sejam sempre seguidos de um trabalho de pesquisa por parte das crianças, deixando apenas que estes momentos sejam de puro prazer.

 

Por vezes o gosto da leitura adquirido na escola é quebrado em casa, quando perguntas inquiridoras, sobre “o que estás a ler?”, “quais são as personagens”, “como é a história”, etc, interrompem momentos que se querem de sossego e concentração. Isto não quer dizer que não se tenha interesse na leitura dos mais jovens, mas há maneiras de o fazer, especialmente se esperar para colocar estas questões durante a refeição e não irrompendo pelo quarto adentro quando ele está concentrado.

 

E não adianta criar uma segunda escola de leitura em casa, antes pelo contrário. A criança deve saber que em casa pode ler o que quiser, quando quiser e como quiser e que as regras de ortografia e de análise do texto ficam para a escola. O que diria se lhe fizessem escrever um ditado do livro “O Diário de Bridget Jones” ou outro similar? Claro que a história perderia todo o seu interesse.

 

Então como é que pode ajudar o seu filho a despertar para o interesse da leitura. É fazendo o que já referimos atrás, deixando que a sua casa sirva apenas para a leitura de histórias maravilhosas, sem regras impostas, que se lêem em voz alta aos mais pequenos. Aos poucos passa a ser a criança quem lê extractos da história, quando perceber melhor todo o mecanismo da leitura, mas sempre de forma agradável e não como um serviço quase obrigatório. Elogie cada progresso e perdoe os fracassos, e acima de tudo permita à criança que sonhe com a magia dos livros.

 

A escolha é mais do que muita, e aproveite para ler também alguns livros de encantar para não perder a magia da infância.

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